segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ahhhhh se todas fossem uma fundação...!!!


 Estamos inaugurando uma série de postagens que serão elaboradas por colaboradores, já que o intuito do blog é ser um espaço aberto a tudo que se relacione ao mundo do vinho. Inclusive, não será de causar espanto se outros enoamigos postarem vinhos por nós degustados, expressando opinião totalmente diversa da nossa. Algumas vezes rola divergência dentro de nossa própria casa! rs O mundo do vinho é assim: várias perspectivas para a mesma bebida. Temos certeza de que essa iniciativa trará grande enriquecimento para o conteúdo do blog, permitindo o acesso a opinião de outros amigos que tem profundo conhecimento sobre o tema. O nosso primeiro colaborador, já conhecido daqueles que costumam ler o blog, é o amigo Jr que mora em João Pessoa (foto ao lado). Melhor apresentando: José Serpa Júnior, enófilo de carteirinha e apreciador de bons vinhos (e bota bom nisso!). Segue abaixo um texto muito interessante, por ele elaborado, sobre a Fundação Eugênio de Almeida. Aproveitem!

Ahhhhh se todas fossem uma fundação...!!!

Fundação, para os que não são juristas, é em resumo um patrimônio destacado de uma pessoa que é voltado para algum fim particular ou público. A par dessas considerações, tratemos de uma fundação instalada no Alentejo em Portugal, mas precisamente na região de Évora, lá está instalada a Fundação Eugênio de Almeida, criada em 1963 por Vasco Maria Eugênio de Almeida. Nasceu com ambições das mais significativas, pois envolveu a reconstrução do Convento Cartuxa, nome que se dá a uma linha de seus vinhos, na construção do Oratório de São José com fins de educação superior, mas foi somente em meados da década de 80 que essa Fundação focou na produção de vinhos, sendo os da linha Cartuxa e Pêra Manca, referências obrigatórias da empresa. Não se pode esquecer ainda o mercado de azeite, com duas linhas de produto o Cartuxa e o EA, todos muito consistentes no mercado lusitano e no de exportação.

A localização dos seus 460ha de vinhas em Évora, refere-se a um mundo em que o solo é granítico e margoso, uma região plana de vastas planícies e de ventos que provêm do sudoeste. Em uma primeira vista, o clima não animaria sobremaneira um enólogo, como o atual Pedro Baptista, pois não favoreceria a princípio o desenvolvimento normal de uma vinha, o inverno é muito intenso e o verão exaustivo, havendo ainda secas e geadas isoladas na primavera. Não há muitas brisas, como na Estremadura ou no Minho vindas do Oceano Atlântico. O Alentejo assim é uma região de Portugal até bem pouco tempo desprestigiada na produção de grandes vinhos, mas produtores do quilate do empreendimento Fundação Eugênio de Almeida mudaram esse perfil e tendência na região.

Falemos de linha de vinhos Cartuxa, segundo o produtor, advém do nome dos monges Cartuxos, que desde 1587 são reclusos no Convento de Santa Maria Scala Coeli, em Évora, outro nome que rotula um de seus vinhos. Esses são vinhos que tentam aliar certa potência da fruta de suas diversas castas e um pouco menos de barrica no seu envelhecimento, sendo a linha mediana do produtor, que ainda possui acima deles o Scala Coeli e o lendário vinho Pêra Manca, elaborado no passado pelo decano Colaço do Rosário.

Degustado o Cartuxa Tinto Colheita 2004, é um vinho produzido a partir das castas Aragonês, Alicante Bouschet, Alfrocheiro e Trincadeira, podendo se perceber que melhora ao ser decantado, pois inicialmente ressaltou um ligeiro álcool a mais, apesar da temperatura ideal de 16 graus. Apercebe-se também notas tostadas e de café torrado, já na boca apresentava taninos ainda jovens, a merecer uma guarda de pelo menos 3 anos. O referido rótulo foi degustado em abril de 2008 com amigos brasilienses em uma bela noite do Planalto Central.  

Como não poderia deixar de ser, também me aventurei no Cartuxa Colheita Branco 2009, arquitetado com Arinto, Roupeiro e Antão Vaz. De uma fruta sutil no início da prova, abriu no decorrer na jornada com notas de tosta e cítrico, e de um frescor marcante, sendo que na boca acompanha o que entrega no aroma. Esse momento de prova se deu em nossa humilde residência com amigos Anna e Maykel, em uma noite regada a grandes brancos lusitanos, acompanhada de um Bacalhau a Gomes de Sá, servido com Azeite Cartuxa com certeza. 

Mas voltemos ao começo, a Fundação Eugênio de Almeida cresce como empreendimento econômico na medida em que seus mais diversos produtos, como vinhos, entre os quais dois lançamentos - o branco Scala Coeli e o espumante Cartuxa, além de azeites e do “filão” do enoturismo são aprovados por seus ávidos consumidores, enquanto na mesma intensidade sua vocação institucional permeia e brilha nos domínios cultural, educativo e social. Ahhh… Se todas fossem assim!!!

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