Tratemos então propriamente da corrida, ela largou em frente a Vinícola Gran Legado, pequena e charmosa, dentro dos limites do Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves/RS, contando com a participação de cerca de 1.200 atletas amadores para uma prova de Meia Maratona (individual – 21kms ou revezamento em dupla – com parciais de 12 e 9kms).
A prova continha trechos em cascalho, asfalto, mas sendo em mais de 80% do percurso constituída de estrada de terra batida. A organização, sabendo se tratar de uma prova em zona rural e de maior dificuldade de acesso, disponibilizou aos corredores uma boa estrutura de transporte coletivo com diversos ônibus que faziam o trajeto do hotel oficial do evento para a largada, e da chegada para o mesmo hotel.
O dia da prova prometia fortes emoções pelas pelas previsões climáticas de bastante chuva com trovoada e amanheceu de fato muito nublado, mas com o clima é que nem noticiário político no Brasil, a mudança veio ligeiro; e dessa vez, os ventos sopraram ao nosso favor, o tempo abriu apesar da temperatura amena, perfeito para uma corrida de montanha em uma serra.
O início do percurso em estrada estreita continha trechos de pequenas retas e declives muitos tranquilos, que foram se intensificando até o km 06. Realmente nessa parte era ladeira abaixo e era preciso ter cuidado. Como se trata de uma estrada de terra batida com muita folhagem e desníveis laterais, fica aqui a observação de que se chovesse realmente ficaria complicado para os corredores e poderia gerar alguns riscos aos participantes pelo possibilidade de quedas, felizmente o clima ajudou. Faço esse parêntese aqui até como sugestão aos organizadores, de se escolher talvez uma outra época para a prova, em que tenha temperaturas igualmente amenas como as que encontramos, mas menos chuvosa na região, como é o mês de maio na Serra Gaúcha.
A paisagem foi um personagem a parte dessa corrida, muitos parreirais em terreno montanhoso (trata-se de uma fenda de um vulcão extinto na região do Vale dos Vinhedos) com uma leve serração ainda existente no início do dia em algumas passagens que foram se dissipando, e inúmeras árvores chamadas plátanos que são nativas da América do Norte, típicas dos climas subtropical e temperado e que servem na região para segurarem as espaldeiras. Contorna ainda o percurso pequenos riachos e vegetação de Mata Atlântica fechada, o que gerava uma sensação de contemplação dos corredores que não se continham e fotografavam alguns trechos, como este subscritor. Além de inúmeros parreirais, existiam ainda pequenas plantações de mirtilo, amoras e caquis para a produção de geleias, bem características da região, além de rebanhos de ovelhas subindo pequenas encostas. Inegavelmente um percurso deslumbrante para os amantes do vinho, se fosse em época de colheita, dava para realizar um pit stop para abastecimento de energéticos naturais, o que evitaria os sarnentos sachês de gel de carboidratos adoçados.
Mas nem tudo foi só festa e alegria, no km 07 a coisa ficou mais complicada, iniciaram as subidas, e que subidas!!!! A prova realmente é de “montanha” literalmente e o trecho de subidas era seguido com inclinações muito íngremes, a altimetria marcou quase 500 metros entre o nível mais baixo e o mais alto do percurso da prova. Não é exagero dizer que nem se aventurem aqueles que não treinam em subidas, pois aqui a coisa é bastante séria. Da minha parte, as pernas sucumbiram no km 09, e iniciamos pequenas caminhadas em vários trechos mais pesados das ladeiras seguidas de trotes leves. Lado negativo? Que nada, deu mais chance de apreciar ao redor, e tirar algumas belas fotos do local, passamos por diversas vinícolas de pequenos produtores, além das já conhecidas Pizzato, Miolo, Casa Madeira, pertencente a Casa Valduga, até chegarmos na Leopoldina – parque local pertencente a esta última.
É preciso ser sincero e dizer que logo após a conclusão de uma corrida de média distância, demora um pouco ao organismo aceitar tranquilamente os deleites e prazeres proporcionados por espumantes em profusão, mas depois começa a ficar convidativo, já que o clima esquentou literalmente.
Os participantes se avolumavam com a chegada dos últimos corredores e brindavam ao som de um hit atual “Despacito” de Luis Fonsi, nada mais pertinente, porque estávamos a desfrutar dos espumantes e do som do DJ na festa e queríamos que a tarde passasse realmente devagar, quase parando. Seria igualmente pertinente essa trilha musical para as subidas sucessivas da prova....!!! A cena era comparável a de uma Campus Party, pois o DJ comandava a festa do lado do pódio dos corredores e as tendas com comida e bebida circundavam o campo de futebol do lado do Parque Leopoldina, local da chegada.
Sem dúvida, o ponto alto da prova foi o astral da festa realizada pelos participantes, pois nunca tínhamos presenciado uma descontração tão grande entre corredores em um final de prova. Os espumantes tiveram sua contribuição nisso com certeza, mas a animação e o local ditaram o ritmo que foi até às 15hs, quando esgotou o combustível da festa e o DJ alertou aos presentes que o último ônibus para retornar ao hotel oficial do evento partiria naquele instante.
Texto de autoria de Serpa Jr.
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