domingo, 5 de dezembro de 2010

II Encontro Internacional do Vinho em Vitória/ES – 1.a Parte

Contando mais uma vez, com a participação do colaborador do blog, o amigo Serpa Jr, segue um post com as impressões dele sobre um evento que participou recentemente: II Encontro Internacional do Vinho.

Há coisas na vida que marcam…! Estar presente no II Encontro Internacional do Vinho, realizado no Hotel Senac Ilha do Boi, Vitória/ES, de 04 a 06 de novembro, foi um desses momentos especiais, que se recorda com carinho. Podemos dizer com certeza que foi inebriante ter apreciado belíssimos e raros vinhos, muitos sem importação em nosso país, ter conhecido amigos e amantes dessa bebida única, além de ter enriquecido os conhecimentos sobre o mundo enológico com palestras de especialistas do quilate de Patrício Tapias, Andreas Larsson e Mario Telles Jr, entre outros.  A organização impecável do evento pela Premium também merece elogio, o pessoal do apoio sempre com uma simpatia ímpar, o serviço extremamente profissional do chileno Ariel Eduardo Peréz Navarro da Casa do Porto, e nem eventuais atrasos na programação ou substituições de vinhos de última hora comprometeram… Parabéns a Álvaro Moura e Roberta Moura por esse Encontro, que com certeza está entre os melhores do país.

 Foram 06 (seis) degustações no total, entre as quais duas em particular para mim, foram memoráveis, sendo as duas primeiras de cada dia, “1001 Vinhos para Beber Antes de Morrer”, por Patricio Tapias, e “Harmonizando a Gastronomia Capixaba: Sublimes Casamentos com Grandes Vinhos”, por Mario Telles Jr. Com Patricio, aprendi que vinhos necessariamente não são apenas produtos ou obras do acaso, bons vinhos são uma conjunção harmônica de eventos naturais favoráveis e o esforço de competentes e obstinados produtores. No painel trazido pelo crítico chileno tivemos: Mitolo Shiraz Mclaren Savitar 2007, Antiyal de Alvaro 2007, Quinta das Bagelas Garrafeira 2007, Claredon Hills Astralis 2006, Casa Marin Lo Abarca Cipreses Sauvignon Blanc 2009, Paolo Scavino Barolo 2003, Tondonia Gran Reserva 1987, Bodegas Tradicion Oloroso 30 anos, e por fim, apresentado pelo próprio produtor o gentil Francesco Marone Cizano, o Erasmo 2006.
 
É certo que dois vinhos me impressionaram muito, foram eles: Claredon Hills Astralis 2006 e Casa Marin Lo Abarca Cipreses Sauvignon Blanc 2009. O primeiro não é nenhuma pechincha, custa módicos R$ 2.390,00. Rapaz, o vinho é mesmo fantástico, mas o preço não ajuda!!! Está no universo daqueles memoráveis, paleta aromática exuberante e complexa, fruta negra madura, ligeiro floral, chocolate e especiarias, na boca extremamente persistente, retro gosto de chocolate, com taninos ainda não totalmente maduros, porém polidos, ainda tem muitíssimo tempo em garrafa, soberbo trabalho dos australianos. Já o segundo néctar era um sauvignon blanc de caráter e exceção do Vale de Casablanca no Chile, aromas de maçã verde e limão, na boca acidez na medida, casaria segundo o crítico chileno perfeitamente bem com um “ceviche”. Esses vinhos, Patricio, entrariam também, na minha lista dos 1001 para Beber Antes de Morrer… 

 Também tiveram seus elogios e são dignos de nota o Tondonia Gran Reserva 1987, quase um licor fino e elegante; já o Erasmo 2006, talvez seja o mais bordalês dos vinhos chilenos. No segundo dia, a degustação inicial foi comandada por Mário Telles Jr e tinha outra vertente, abriu com uma homenagem mais do que justa a Saul Galvão, crítico de vinho e gastronomia do Estadão, falecido ano passado. Foi nas letras de Saul Galvão que se construiu boa parte da crítica de vinhos que se tem hoje no Brasil, ele foi um precursor nessa área, onde ninguém se arriscava em artigos e colunas, e por isso, será sempre lembrado. Mário, médico de carreira, foi de terno e gravata, explicou que odiava esse traje, mas que os usava em respeito a plêiade capixaba. Bem, quanto à harmonização em si, nunca tinha participado de algo parecido, comida capixaba, que também é novidade para mim, com os seguintes vinhos: Dog Point Section Sauvignon Blanc 2007, Sketch Raul Perez, Cattier Rose Chigny Les Roses, Laberinto Sauvignon Blanc 2007, Domaine Martin Shaetzel Gewustraminer Cuveé Reserve 2009, Château Derezia Tokaji Aszu 5 Puttonyos e  Mersault Clos Mazeray 2004.
 
Aqui, três se destacaram: Sketch Raul Perez, Laberinto Sauvignon Blanc 2007, Château Derezia Tokaji Aszu 5 Puttonyos. O primeiro dispensa comentários, um alvarinho legítimo que passa por 12 meses em barrica, 12 meses em garrafa e, conforme o produtor, 60 dias a trinta metros de profundidade, o quê originou um vinho branco intrigante, cor amarelo brilhante, aromas de frutas tropicais (abacaxi, limão, maracujá), leve baunilha, e na boca acidez pronunciada com retrogosto que acompanha o aroma. O Laberinto Sauvignon Blanc 2007, que mereceu 94 pontos de Patrício Tapias, é um sauvignon blanc típico, delicado no aroma cítrico com notas herbáceas, mas a acidez distinta dos demais da prova foi o quê possibilitou ter sido o branco que melhor harmonizou com os pratos a base da comida capixaba, como a muqueca e a ostra gratinada. Por fim, o Tokaji Château Derezia apresentou aromas de mel e pêssego com frescor, e na boca surpreendeu pelo corpo e pela doçura controlada, com longo final. Enfim Dr. Mario, acho que quem deveria estar de terno éramos nós – os espectadores, pois assistir sua palestra foi uma honra e digna de respeito de todos os privilegiados degustadores presentes.

No próximo post, trago detalhes das demais degustações do evento.

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